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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Lisetta Levy



Art critic Lisetta Levy, born in Milan (1917)
Moved to Brazil in 1954 after working for working for the newspaper Devar ha-Shavua in Israel.

A minha professora

Eu conheci a dona Lisetta em 1956, no terraço do Hotel Toriba. Minha mãe chegou com essa senhora anunciando que eu e meu irmão gêmeo Sergio teríamos aulas de inglês com ela. Nos tínhamos seis anos de idade e naquela idade tudo era farra. Que férias maravilhosas! Lembro-me naquela ocasião que fiquei impressionado porque nunca havia visto uma pessoa com muletas e uma perna só. E o sotaque também impressionou uma mistura de tudo, italiano, alemão e português.
A primeira vez que tive aulas com ela, foi logo após nossas ferias. Meu mano e eu levamos além de caderno e lápis uma lancheira daquelas de ferro cheia de objetos e achados preciosos. Entramos naquela casinha térrea geminada na rua Caravelas com uma varandinha e uns móveis do tipo Patente para terraço. Na ante sala cheia de quadros me lembro de uma aquarela de José Antonio da Silva. Seguimos pelo corredor e chegamos ao quarto dela, onde dominava sua estante repleta de livros. Também me lembro da cama onde ela dormia coberta por uma colcha grossa e uma vitrola. No centro do quarto tinha mais alguns móveis do tipo daqueles do terraço. Uma mesa baixa com poltronas ao redor.
Ah, de vez em quando nos deparávamos com a Mutti, sua mãe, uma senhora que mal falava o português.
Eu creio que da mesma forma que agente se impressionou pela Lisetta, ela também se encantou pelos “dgémeos”, os dois irmãos ruivinhos e idênticos.
Após alguns anos ela nos perguntou se gostaríamos de tomar aulas de arte em inglês. Para nos tudo era encantamento e nem questionamos, dissemos que sim.
Foi daí que ela começou a nos mostrar os seus livros como quem tira coelhos da cartola. E ao longo dos anos aprendemos muito sobre o renascimento italiano, intercalado por arte de todas as épocas.
Ah, e as aulas de inglês propriamente ditas, nos enriqueceram de vocabulário, palavras que ela pronunciava com um sotaque bem italiano.
Chegamos até a  ler Macbeth juntos.
E assim empreendemos uma deliciosa jornada que durou até 1970, quando entrei na Fau Usp, e resolvi parar com as aulas da “Tia”.
Memórias preciosas que jamais esquecerei.